1. |
libertado
03:09
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o meu amor enviou-me um poema
de morte
pintado
de tristeza
cru, rude de pureza agonizado
desenhado na agonia saturado
o meu amor enviou-me um poema
de amor
ao amor
libertado
meu amor enviaste um poema
de morte
pintaste
de tristeza
rude, cru na pureza agonizado
desenhado de agonia saturaste
meu amor enviaste um poema
de amor
ao amor
libertaste
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2. |
bagagem
02:40
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quando te fores
amor
moreno nu olhar
brilhante
deixas por cá
faltas
nesta bagagem
abarrotada
quando te fores
amor
moreno nu pentear
corrente
deixas cá
faltas
desta bagagem
deslizante
quando te fores
amor
moreno nu amaciar
pigmenteante
deixas por cá
faltas
nesta bagagem
tacteada
quando te fores
amor
moreno nu passar
calmante
deixas por cá
faltas
desta bagagem
transviada
quando te fores
amor
moreno nu beijar
adoçante
deixas por cá
faltas
nesta bagagem
amargada
quando te fores
amor
moreno nu acasalar
penetrante
deixas por cá
faltas
desta bagagem
liquidada
quando te fores
amor
moreno nu amar
gémeo
deixas por cá
faltas
nesta bagagem
desunida
quando te fores
amor
moreno nu vazio
movente
deixas por cá
faltas
nesta bagagem
desviajada
quando te fores
faltas
moreno coração
enegrecido
deixas por cá
amor nu
nesta bagagem
desgostada
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3. |
desune
03:36
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Quando a rotina bate duro
E a ambição se reduz
Ressentimentos cavalgam alto
Por emoções desaparecidas
E vamos alterando caminhos nossos
Nessas estradas tão diferentes
Então amor, o amor irá desunir de novo
Como o amor nos une tanto
Porque está o quarto tão frio?
E te recolhes tanto no teu lado
Estarão os meus timings assim tão estragados?
O nosso respeito murchou muito
Mas ainda há réstias daqueles apelos
Que mantivemos como nossas vidas
Então amor, o amor irá unir de novo
Como o amor nos desune tanto
Agora choras enquanto dormes
Choras a todos os meus sentimentos expostos
Aos perdidos sabores de minha boca
E o desespero entra em coma
Havia tanto de tão bom
Tanto para não funcionarmos mais
E o amor?...
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4. |
renasce
03:50
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quem morre cedo não perde renasce
num céu cinzento brilhar marinho
quem morre cedo não perde renasce
num cabelo negro saudosa mocidade
quem morre cedo não perde renasce
num sopro agarrar seguras mãos
quem morre cedo não perde renasce
num corpo puro amizade fraterna
quem morre cedo não perde renasce
num vazio deitar lábios beijados
quem morre cedo não perde renasce
num aceso fumo conforta mortalha
quem morre cedo não perde renasce
num vivo passar airosa figura
quem morre cedo não perde renasce
num ficar presente saudade morta
quem morre cedo não perde renasce
num acordar eterno sorriso menino
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5. |
sinais
02:53
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os sinais que nos unem
não chegam
a ultrapassar
as razões
que nos afastam
os sinais que nos unem
não chegam
estão ligados
à passagem ao verde
caem frenéticos
à razão do encarnado
os sinais que nos unem
não chegam
sinalizam olhares
acendem dois sóis
gelados do frio
à lua enfeitiçados
os sinais que nos unem
não chegam
vivem endiabrados
circulam mudos
ao brilho cego
do corpo deformado
os sinais que nos unem
não chegam
reflectem ao espelho
cigarros enrugados
negociações erradas
do amor traficado
os sinais que nos unem
não chegam
estão desgovernados
porque o senhor da máquina
se encontra perdido
no automóvel capotado
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6. |
voltar
03:13
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tens que voltar. voltar ao amar aprender
quando ele não está, estando sempre. como
num vento que sopra verde soprando, como numa
onda que navega branca navegando, como uma
asa que bate batendo mais. tens que voltar
ao amor amado, quando ele evapora egoísmo
parte num ciúme, crancha num orgulho irado
como numa confiança, desconfiada
como uma palavra dita, gratuitificada
como num querer cegado, estratificado. tens
que voltar. voltar ao amar amante, libertado
credenciado pelo acreditar, pelo acordar
do mel das torradas, por entre, num sexo perfeito
que acorda ensonado, num prazer nunca
antes alvorado e leve traz um novo dia, dia
nunca antes acordado. por um sol queimado
por uma lua apagado, pela madrugada pura
que dura, mais dura, que mata e põe toda
a santa saudade, mais amiga tristeza
a dormir um bocado. tens que voltar, voltar
aos fundos, apagar nós, mal atados, como num tudo
atafulhados, podridão, como na falsa paixão
desafinados, como canção, fingida mão na mão
apertos da alma coração - corações assassinam -
orações, apodrecem poemas, como ratazanas frescas
e gaivotas açaimadas, pelas águas rainhas. tens
que voltar. voltar ao amor aprender, sem sentir
dar o dar, sem sentir se partir, sem sentir culpas
e menores desculpas, sem sentir que sentes
apenas sentires amar, como um mar que não
leva o marinheiro, como uma tempestade que não
leva a corrente, como uma chuvada que
não leva as tuas lágrimas. tens que voltar ao saber
aprender amar, pelo riso sorriso, pela carinhosa
festa dançar, para que juntos tu, ele voltem
nessas lágrimas, gargalhada feliz, felizes por
voltar ao aprender reaprender, cicatrizar das
portas pretas, voltar em braços abraços, despidos
da cruz, dar a volta, ao estado de voltar, amar.
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7. |
caminho
02:53
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voltou a semana
sem ti
chorando diferente
tua ausência
diferentes razões
fazem chorar
copiosamente
as fazem
fechar dos olhos
e tu?
que voltas costas
à cidade
e tu?
que caras viras
à saudade
e tu?
que já te puseste
ao caminho
dessa solidão
a caminho
do caminho teu
pronto
para te dar
para te promover
ardilosa bela
caminhada
e tu?
aproveita
caminhante
tu aproveita
aproveita tu
o que ele quer
espreita
que quer dar-te
tu aproveita
mesmo que um sol
caminhante
teime
em não aparecer
aproveita
tu - tua – curta - longa - caminhada
a caminho
do teu caminho
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8. |
diferente
04:53
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Há qualquer coisa diferente quando estamos nós
nas luzes apagadas. Nas tuas mãos azul olhar as
janelas cansadas nu vento soprador, numa cama
cansada de se mudar, numa roupa fantasma por
sobressaltar, numa casa amarga sem ponta por
onde se apagar, cozer ou entrelaçar num novelo se
enrolar. Há qualquer coisa diferente quando estamos
nós num nada que nos importar, num nada hipnotizaste
desnudos da cabeça ao coração - sem pé - por agarrar
ao corrimão que sabe e soube sempre tão bem, sempre
escorregar. Foste tu o sorrir que não querias por fugir
por tão bem, saber o que não, querer? Queres, não? E eu
que quero sem querer por tanto vago? Salto no espaço
viro no risco ao caminho, aquecido, ao velho casaco azul,
cobertor profundo, desgastado afundo em bolsos de areia
e bruma levados. Nadador do mar, isco, peixe, pescador,
naufragando o nada, de nada, nadando sempre contra-corrente,
diferente da gente, saboroso e perfurado pela sombras
do amor. Há qualquer coisa diferente quando estamos nós,
estranhos deles e delas, cães e cadelas, vivos e não
nadas, por correr entre esquinas e minas. Preferes? Laranjas
e tangerinas, fadas e más-rainhas, espelhos quebrados
e varinhas de maus condados e historias antigas de reis
por presentes envenenados. Às vezes há coisas, chás
que não se dão ao mel, nem se dão ao fel, coisas
que apenas coisas são, e mais coisas não querem
mais ser. Eu quero ser a lua e imaginação solar. Eu
quero ser o parvo, ausência, pensamentos nus, despidos
pensar. Eu quero ser todas as palavras que me apetecer
cuspir, vomitar, jorrar, todas as palavras que não digo
todas as que os meus dedos vazios nus teus quiser
escrever. Eu quero ser o nada que te preenche que
te dá voz dentro. O vazio que de resto já sabes. Esse
que já tens, temos, tenho? O mais nada que não te posso
dar, ou receber, no tanto que já somos e temos. O eu
nada. Baralhado, não aceite, alheio até desinimaginado. Eu
quero ser a gaivota sem mar, o peixe na terra, o garfo
sem prato, o comboio sem janelas a vida sem elas, eu
e tu? O carinho sem fogo, a amizade sem gestos, o
brilho sem olhos o sexo sem corpos no tumulo sem
nomes. Que queremos ser? Seres sem ser. Apenas. Há?
qualquer coisa diferente quando estamos nós.
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9. |
sabes
02:10
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sabes?
sabe
estranhamente bem
o nós
rodeados às pessoas
que não sabem
aos nós
desta sociedade
desatados
que também
não sabem
nos olhares mudos
por nós
ao sem saber
que sabes?
sabes?
sabe
estranhamente bem
sabendo sei
o que só nós
sabemos
quando eles
não sabem nada
dos nossos olhos
pelas cores do seus molhados
sabes de nós?
sabes?
sabe
estranhamente bem
sabes que sei
que sabes
como sabe
o amor
sabendo tão bem
nos dar
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